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Escândalo força partido do governo do Brasil a se reorganizar


Larry Rohter
no Rio
Até poucos meses atrás, o Partido dos Trabalhadores, que governa o Brasil, era visto como o exemplo mais bem-sucedido na América Latina de um movimento político de esquerda radical que migrou para a moderada democracia social. Agora, manchado pelo maior escândalo de corrupção na história do país, o partido está tentando freneticamente se reorganizar e evitar uma derrota esmagadora nas eleições do próximo ano.Mas as opções diante de seus 800 mil membros registrados, que elegerão o novo presidente do partido no domingo, são intragáveis. Eles podem votar para reconfirmar a liderança existente manchada pelo escândalo ou dar poder a uma chapa de reforma que alega ser moralmente pura, mas que está pedindo por uma volta a políticas econômicas que foram repetidamente rejeitadas pelos eleitores.Os linhas-duras em economia já assumiram uma posição de comando no diretório nacional do partido após o primeiro turno no mês passado. Eles argumentam que o partido só pode recuperar sua integridade voltando às suas raízes doutrinárias socialistas e abandonando as políticas amigas do mercado defendidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”A situação é totalmente contraditória e esquizofrênica, e a tendência é que fique ainda pior”, disse Denis Rosenfield, autor do livro “PT na Encruzilhada” e um cientista político. “O partido está se movendo para a esquerda enquanto o governo está se movendo para o centro.”O favorito na eleição é Ricardo Berzoini, até recentemente o ministro do Bem-Estar Social. Mas ele é visto como pouco mais que um testa-de-ferro de José Dirceu. Dirceu foi o todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil de Lula até ser forçado a renunciar em junho, por acusações de corrupção, mas ele continua controlando o campo majoritário, que dominou o partido na última década.”Dirceu é quem continuará comandando as coisas, mesmo que de forma menos ostensiva”, se Berzoini derrotar Raul Pont, líder da ala trotskista, disse Rosenfield. “Berzoini não tem estatura própria. Ele é um líder sindical acostumado a receber ordens e fará o que Dirceu quiser.”Após os noticiários e depoimentos no Congresso os vinculando a um fundo secreto multimilionário e outras práticas ilegais, o presidente, o secretário-geral e o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores renunciaram. Mas o partido não os puniu, satisfeitos com a conversa de “erros” políticos em vez de violações da lei.O ex-secretário-geral do partido, Silvio Pereira, disse na semana passada que todos os 21 membros do diretório do partido sabiam que a campanha presidencial de Lula em 2002 tinha sido financiada com caixa dois, que atualmente está sendo investigada pelo Congresso. Outros membros do diretório emitiram declarações negando, mas não há nenhuma declaração oficial explicando a origem do dinheiro do caixa dois.Em vez de lutarem internamente, mais de 400 membros fundadores do partido optaram nas últimas semanas por abandoná-lo. O número inclui vários membros do Congresso, a maioria aderindo a um novo partido de esquerda chamado Partido Socialismo e Liberdade.Em conseqüência disto, o Partido dos Trabalhadores não conta mais com a maior bancada no Congresso e teve que abrir mão do privilégio de ter um de seus membros atuando como presidente da Câmara dos Deputados.”O partido está completamente desfigurado”, disse Hélio Bicudo, um dos que saíram. Ele previu que mais membros deixarão o partido, principalmente entre os movimentos sociais ligados à Igreja Católica Romana.Lula, aparentemente preocupado com a possibilidade do escândalo manchá-lo pessoalmente e afetar suas chances de conquistar a reeleição, também tem tentado se distanciar do partido que fundou. O presidente, criticado no início de seu governo por misturar o partido e o governo ao usar um alfinete de lapela com a estrela vermelha do partido, não votou no primeiro turno da eleição do partido e explicou sua ausência com uma resposta enigmática: “Eu não votei porque não votei”.Isto não é um bom presságio para o futuro do partido. Muitos analistas prevêem que sua bancada no Congresso poderá encolher em mais da metade na eleição do próximo ano devido à revolta dos eleitores com o escândalo.”Construir uma liderança tão forte quanto a de Lula levará muito tempo, e não há de onde possa surgir”, disse Francisco de Oliveira, um sociólogo e membro fundador que deixou o partido. “Lula sabe que ele é maior que o partido, o que não permitiu que outros líderes carismáticos se desenvolvessem, de forma que acho que o Partido dos Trabalhadores precisa se preparar para um longo inverno.”

The New York Times